sábado, 27 de fevereiro de 2010

Novas heranças

Haroldo Barboza *

O assunto é antigo, repetido, mas o Haroldo, como bom cidadão, cuida que não seja esquecido pelas pessoas de bem e pelos distraídos ou que o foco não seja disvirtuado, o que é regra quase geral, a tática dos facínoras. Leiam com espírito crítico e comentem, se for o caso.


Nos últimos 60 anos sempre ouvi dizer: “uma imagem vale por mil palavras”. A partir daí, ao observar uma única foto, tentava tirar conclusões sobre a manchete abaixo da mesma. Confesso que em muitos casos, cheguei a mais de uma possibilidade.

Mas ao observar um filme, de pelo menos 30 segundos, certamente milhares de pessoas chegarão à mesma conclusão sobre o fato exibido. No entanto, tal certeza coletiva sofreu abalo com a declaração do governo nacional que com o maior cinismo declara que “uma imagem não diz nada”.

Se ele estiver se referindo a apenas uma foto, até concordo. Mas um vídeo que exibe políticos corruptos escondendo dinheiro em cuecas e meias não pode nos levar a concluir que “patriotas valorosos” estão guardando o tesouro nacional contra ataques de estrangeiros gananciosos.

A grande parcela do povo que idolatra os “gênios” que pronunciam cinco palavras no Big Besta Brasil certamente pode acreditar nesta teoria e votar “nos mesmos” outra vez. E esta parcela de iludidos também deve acreditar que os grupos de marginais que dominam as ruas dos subúrbios do Rio a partir das 18 horas é fruto da mente distorcida de pessoas que apenas desejam instalar o pânico na pacata metrópole e denegri-la perante as “idôneas” autoridades esportivas internacionais para evitar que a copa de 2014 e a Olimpíada de 2016 deixem de ser realizadas na “cidade sem lei”.

Ainda que tais evidências sejam exibidas na tv (como ocorreu no final de fev/2010) no horário nobre a menos de 2 minutos do Maracanã, onde serão realizados os jogos finais.

Mas os mentores destes eventos, que ganharão elevadas quantias com a triplicação dos custos dos “elefantes brancos” que ficarão como “herança” para nós (vide vila olímpica do Pan2007) certamente já entraram em acordo com as autoridades da segurança pública para que os bandidos exibidos nas imagens da tv sejam temporariamente afastados para mais longe.

Pobre das cidades de Petrópolis, Teresópolis, Friburgo e outras dezenas periféricas que passarão a conviver com a violência em maior escala até meados de 2016.

Depois desta data, os facínoras portando armas de fogo voltarão às atividades em paz em nossa comunidade, continuando a produzir dividendos (financeiros e políticos) aos facínoras que portam canetas mortais nos suntuosos (mas podres) palácios do poder.

* Haroldo Barboza é escritor, professor de matemática (crianças) e informática (adultos), analista de sistemas e palestrante

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Além dos 140 caracteres

Será que eu hoje ao menos pensei nela?

Será que eu hoje ao menos pensei nela,
Mesmo de um modo vago e momentâneo,
Ou, simplesmente, suprimi do crânio
Tão meiga imagem de mulher tão bela?

Será que eu hoje já nesse descuido
Me abandonei qual leve pluma ao vento?
Talvez, porque meu débil pensamento
Parece imerso num estranho fluido...

Porém é cedo. Nem ainda o sol
Deixou seus raios darem luz ao dia,
Ainda o mundo dorme e todavia
Creio ter visto há tempos o arrebol.

Pois pensar nela traz-me tal engano
Que um só momento mais parece um ano.

Este soneto foi publicado no site Recanto das Letras com o título Musa I. Ele faz parte de uma série que iniciei em 1959/60/61 com a denominação geral de Estudos, e ordenados numericamente. Vou atribuir aqui nova denominação. Será o primeiro verso. Acho que ficará mais apropriado.
 
BlogBlogs.Com.Br